sábado, 19 de maio de 2012

O Curupira ouviu: Soulfly, Enslaved


Max Cavalera é definitivamente um gênio do metal. Sua obra pode ser colocada ao lado de grandes ícones do peso, como James Hetfield, Dave Mustaine, Tom Warrior, entre outros. Em três décadas, o trabalho desse mineiro ajudou a construir e reafirmar uns sem números de gêneros: death metal, thrash metal, groove metal, nu metal (argh!) e até certas vertentes do hardcore. Seu modo raivoso, quase punk, de tocar guitarra, e seus berros guturais inconfundíveis marcaram várias gerações. Max ainda conseguiu a proeza de colocar um grupo de metal extremo sul-americano na MTV, nas paradas e mercado mundiais (inclusive o “impenetrável” norte-americano) colocando o metal nacional no mapa da cultura pop global. Enfim, o moço é uma peça fundamental, uma verdadeira instituição, da música pesada. O Sepultura (lembra-se deles?) estava no ápice da popularidade, em 1996, quando se separou devido a rusgas internas e problemas envolvendo negócios e família. Desde então, o grupo ficou alijado de sua figura mais carismática e seu principal líder. Os dois lados seguiram então em carros distintos de batalha: de um lado o Sepultura, com Derrick Green, com uma sonoridade bem próxima de modernóides do hardcore, tocando uma música bem diferente do começo da banda, o que acabou afastando muitos fãs (inclusive os redatores deste webzine); do outro, Max criou o Soulfly, projeto que incluiu participações de figurinhas carimbadas, como o guitarrista Lucio Maia da Nação Zumbi, e com um trampo cheio de groove, flertando com outros gêneros como nu metal (argh! de novo), world music e hip hop, desdobrando o trabalho presente no Roots. Dessa feita, as forças motrizes do Sepultura jogaram uma pá de cal em seu passado, escarrando no prato que comeram.

Pois parece que o METAL (com letras garrafais mesmo) voltou a correr nas veias de Mr. Cavalera. Não bastasse os bons álbuns lançados por seu novo projeto, Cavalera Conspiracy - Inflikted (2008) e Blunt Force Trauma (2011) – Max reuniu um time de peso e este ano lançou o oitavo disco do Soulfly, batizado de Enslaved.

O album cuja temática é a escravidão - um tópico constante na história da humanidade – é um mergulho de cabeça no estilo que consagrou nosso “herói”: o heavy/thrash metal. É claro que ambos sempre estiveram presentes no trabalho do cara, basta ouvir os trampos anteriores, Dark Ages e Conquer. Mas provavelmente desde Arise (1991) o gênero não comparecia assim de uma maneira tão pungente.

O disco revisita suas referências dos anos 1980, a saber: o death metal americano (Morbid Angel, Possessed), hardcore, thrash (principalmente o alemão, algo constante para o músico, e os yankees como Exodus e Slayer) e até heavy metal tradicional (alguns riffs e solos têm algo de NWOBHM). Além disso, Max, antenado como só ele, assimila lances mais contemporâneos, como brutal tech death metal, death melódico a la Gothenburg (At the Gates, In Flames etc.), Black/death metal (o batera David Kinkade tocou, entre outros, no Borknagar e no Malevolent Creation). Todas essas bases são canibalizadas, deglutidas e misturadas junto com as habituais influências das culturas brasileira, latina, africana, oriental etc. Pitadas de industrial podem ser percebidas aqui e ali também. Tudo isso para criar um trabalho sui generis, que fica a anos luz de algo caricato ou uma imitação grosseira de si mesmo. Cavalera e seus asseclas conseguiram criar algo único que apesar de todas essas influências talvez só possa ser enquadrado numa categorização: HEAVY METAL!

As referencias citadas acima estão ao longo das faixas. “World Scum”, o primeiro single extraído do álbum, é puro Morbid Angel (da era Domination). Os vocais nessa faixa estão bem parecidos com os de David Vincent e os blasting beats comem soltos. Em “Plata o Plomo”, composição de Max e o baixista Tony Campos (Asesino, Possessed, Ministry entre outros), é impossível não pensar em Brujeria, com sua letra, cantada em português e espanhol, fazendo referência a Pablo Escobar, com belíssimas passagens de violão flamenco. “Gladiator” começa com uma levada tipicamente thrash com riffs e refrões marcantes, para descambar num death metal, cheio de mudanças de tempo bruscas, lembrando um pouco o grande Nile, em alguns momentos, e também com a presença de cítaras, sons orientalizantes e atmosferas. A lista de convidados entrega o jogo também: Dez Fafara (Coal Chamber, Devildriver), Travis Ryan (vocal do Cattle Decapitation), além do enteado Richie Cavalera e os filhos de Max, Igor Cavalera Jr. e Zyon Cavalera – colaborando nos vocais, guitarra e bateria, respectivamente, na faixa Revengeance. Isso sem falar no colaborador habitual, o excelente guitarrista Marc Rizzo, que participou dos últimos álbuns do Soulfly. Enfim, ainda é cedo pra dizer se Enslaved será um clássico. Mas com certeza o Diabo da Tasmânia do metal soube se reinventar.

Nota dos pé virado: 8/10



SOULFLY - World Scum (Vídeo oficial)

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