quinta-feira, 7 de junho de 2012

O Curupira foi: II Thrash Assault


A primeira noite do mês de junho foi marcada por muita chapação e headbanging em Belo Horizonte. A escola de thrash metal do velho continente enviou duas representações oitentistas e de renome mundial: as bandas Exumer e Artillery, esquadras respectivamente do grande celeiro alemão e da Dinamarca. O evento aconteceu na última sexta-feira, no Music Hall, numa quebradeira batizada como II Thrash Assault. E o nome é bem propício. Se voltarmos ao passado, nas primeiras décadas do metal, tudo ainda estava em formação. Subdivisões do estilo, como death, crossover, black, prog etc não eram tão evidenciados – tudo era heavy metal. Claro, com o passar dos anos, as definições foram ganhando forma e adeptos, até como as conhecemos hoje. No fim dos anos de 1970, a herança do Black Sabbath criou o New Wave of British Heavy Metal, que lançou, dentre outras bandas, os deuses Iron Maiden e Saxon. Black e death metal, mesmo com os principais nomes revelados na década de 1980, só conquistariam definitivamente o público no começo do decênio seguinte. Entretanto, se tivermos de escolher um sub estilo que representa muito bem os 1980´s, este é o thrash metal. Bebendo direto na fonte dos ingleses Motorhead, também das bandas punks do fim da década anterior, surgiu um fenômeno que aplica um verdadeiro açoite no corpo de quem o escuta – por isso o nome, Thrash! Nos Estados Unidos, grupos como Metallica, Exodus, (fucking) Slayer estabeleceram velocidade, peso e tudo que a música precisava para enlouquecer a juventude a partir da época. Na Europa, o grande foco era a Alemanha, especialmente a tríade de ouro, com Kreator, Sodom e Destruction, refletindo nos outros países do continente. E a noite mineira da sexta passada foi agraciada com duas bandas que respiraram toda aquela magia etílica do passado. As contemporâneas Artillery e Exumer têm, juntas, nove discos de estúdio gravados, os debuts são respectivamente datados em 1985 e 86. Tudo que poderia ser esperado, então, era por momentos de revival de um período clássico, cheios de energia tanto das bandas quanto do público. Mas o século é outro, e a realidade idem. Não há tanto mais daquela aura subversiva que pairava no ar, há quase 30 anos. Os músicos envelheceram, assim como os fãs que, em BH, não rejuvenescem com tanta facilidade. Mais uma vez a casa não estava cheia, muito longe disso, na verdade. Não obstante o lamento, é possível dizer que o saldo foi bastante positivo. Quem acompanha a cena sabe que thrash metal é o “filho” mais festivo e dançante do heavy metal. Festivo porque está muito associado à chapação desenfreada, tão ovacionada nas letras de bandas das antigas e também pelo comportamento dos músicos, alguns deles chafurdados por anos no vício pelo álcool. Dançante porque ninguém consegue ficar parado quando é açoitado, só resta bater cabeça e dar uns socos, geralmente pacíficos, por aí. E a conexão teutônica/dinamarquesa deu conta do recado. Os primeiros a subir ao palco foram os caras do Artillery. A formação atual conta com os irmãos fundadores Michael e Morten Stutzer (guitarras), o também genitor Carsten Nielsen (bateria), além de Peter Thorslund (baixo) e Soren Nico Adamsen (vocal). O set foi bem misturado, indo de trabalhos clássicos, como Terror Squad e By Inheritance, ao último disco, My Blood. Usando a tática de mesclar petardos antigos, seguidos de músicas recentes, a fórmula mais uma vez deu certo. Um fato curioso, e que confirma a longevidade das bandas que tocaram na noite, é que não havia cabeludos. Na verdade, o que mais se viu foram dois bandos de calvos mesmo. Nada que diminuísse a agressividade sugerida, The Challenge, Terror Squad e Into the Universe confirmaram bem a assertiva. Mesmo que sejam europeus, o som do Artillery remete muito mais ao biotipo americano, aquele praticado na famigerada Bay Area. Vale ressaltar que, desde 2007, a musicalidade da banda acabou tomando um novo direcionamento, por causa do vocalista. Até então, o principal cantor era Flemming Ronsdoff, que gravou os dois primeiros discos, os maravilhosos Fear of Tomorrow e Terror Squad, com seu estilo tipicamente thrash. Após algumas mudanças no posto, Soren assumiu o microfone e gravou os dois últimos registros. O detalhe é que o cara vem de uma escola melódica, já cantando em bandas “água com açúcar”, como Crystal Eyes. Apesar da ironia, o timbre do cantor caiu muito bem nas linhas thrasheiras dos dinamarqueses. Esse lance de revival é sempre bom para os dois lados, músicos e fãs. Como exemplo, o baterista Carsten sempre aparecia com uma máquina e pedia para o público gritar o nome da banda, enquanto ele filmava e fotografava. Antes de executar Khomaniac, o vocalista explica que todos estavam a 48 horas sem dormir, desde o Chile, por causa da cruel mistura entre turnê e conexões aéreas. Talvez por causa disso, nenhum dos caras ficou no local após a apresentação, todos pegaram suas coisas e saíram saindo... de qualquer forma, eles fizeram um excelente show, muito técnico e agressivo. Na sequência, sobem cinco sectários da melhor escola musical de toda a Europa. Pensem comigo sobre o quão profícua é a Alemanha, quando falamos de arte, em geral. No cinema, na música clássica, eletrônica, na pintura, enfim. Os germânicos compõem um país de vanguarda, que esbanja criatividade e bom gosto. Não somente, os caras são bem espertos, basta entender o quadro econômico europeu vigente, e quem comanda a bagaça por lá. Falando do que gostamos, lembre-se de quantas bandas maravilhosas foram cedidas pela Alemanha. Se contarmos, o número facilmente passa da casa dos 20... E Mem Von Stein (vocal), T. Schiavo (baixo), Matthias Kassner (bateria), Ray Mensh e H.K. (guitarras) sabem de onde vieram. Qualquer banda alemã dos 1980´s, quando tocar em BH, vai ser bem recebida. Contemporâneos de nomes do segundo escalão alemão, mas não menos importante, como Assassin e Holy Moses, os chucrutes do Exumer também botaram pra fuder no Music Hall. De 12, apenas três músicas do mais recente álbum, Fire & Damnation, foram tocadas. O restante foi baseado nos viscerais Possessed By Fire e Rising From the Sea, de 1986 e 87. Winds of Death abriu a sessão de riffs, linhas de baixo e bateria, tudo em extrema velocidade, bem como eles aprenderam na escola germânica. O vocalista Von Stein tem uma postura meio robótica em campo, um pouco diferente do que estamos acostumados a ver. O cara parece mais um lutador de UFC, com movimentos bruscos enquanto cantava. Até mesmo a voz dele soava um pouco diferente, talvez por causa do cansaço, em função dos dois dias praticamente sem dormir. Mas o pau quebrou solto mesmo assim, o gordinho Ray não queria nem saber e debulhava nos acordes violentos, como nas clássicas Fallen Saint e I Dare You, alimentando a pequena, porém beligerante, roda. Matthias também deu sua grata contribuição com as baquetas, sua pegada é bem consistente. Após quase uma hora de riferama, os alemães saem e logo retornam para o encore. A escolha foi bem feita, Xiron Dark Star, seguida de Fire & Damnation. Possessed By Fire, o começo de tudo na carreira da banda, encerrou a noite em grande estilo. Ao final, os gringos até que ficaram para um rápido bate papo, coisa curta mesmo. Uma noite especial, devido à longevidade e relevância mundial das bandas que tocaram. Como dizemos aqui em Minas, “teve bão”.


Set Lists:

Artillery

1 – When Death Comes

2 – By Inheritance

3 – Death is An Illusion

4 – Mi Sangre (The Blood Song)

5 – Into the Universe

6 – The Chalenge

7 – 10.000 Devils

8 – Khomaniac

9 – Terror Squad

10 – The Almighty

Exumer

1 – Winds of Death

2 – Journey to Oblivion

3 – The Weakest Limb

4 – Fallen Saint

5 – Vermin of the Sky

6 – Sorrows of the Judgment

7 – A Mortal in Black

8 – New Morality

9 – I Dare You

10 – Xiron Dark Star

11 – Fire & Damnation

12 – Possessed By Fire

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