terça-feira, 12 de junho de 2012

Homenagem ao dia dos namorados: Leviathan - True Traitor, True Whore


O black metal estadunidense da ultima década, mais conhecido pela alcunha de USBM (United States Black Metal), vem se pautando por absorver e transformar as influências das bandas norueguesas de tempos anteriores. Grupos como Xasthur, Nachtmystium, Panopticon e Wolves in the Throne Room, levaram a estética escandinava a outro patamar, assimilando valores musicais alheios ao estilo (rock alternativo, jazz,) e explorando algumas características vigentes dos grupos nórdicos, como atmosferas e climas ambientais. Além disso, as esquadras norte-americanas da ultima geração vem elegendo diferentes temas líricos, além dos já explorados à exaustão pelos colegas europeus, como ocultismo, satanismo, mitologia e paganismo. Os artistas yankees escrevem sobre assuntos que estão ligados às experiências do homem contemporâneo: drogas, solidão, isolamento, depressão, misantropia, situações urbanas, epifanias abstratas, eco-ativismo, instituições sociais, entre outras mazelas que causam mal estar na civilização. Leviathan é um dos principais representantes dessa leva de músicos. Ao lado do Xasthur, one man band formada por Scott Conner (aka Malefic), o Leviathan ajudou a consolidar o subgênero depressive black metal, apostando em vários dos elementos musicais supracitados. Sobretudo, no ultimo álbum lançado, a banda trata de um tema bastante atípico dentro do metal negro: o amor. Não o estereótipo fofinho, propalado pelos meios de comunicação de massa ou por canções de música sertaneja. Mas, sim, um mergulho nos aspectos ambivalentes e anti-sociais desse – nem sempre – tão nobre sentimento. Wrest, ou melhor, dizendo, Jef Whitehead, é o único integrante da horda e o álbum True Traitor, True Whore, de 2011, é inspirado numa experiência recente na vida do cara. Ele passou um bom tempo em cana depois de ser acusado de estupro pela ex-namorada. Foi solto um tempo depois por falta de provas, mas a história com elementos violentos e pra lá de obscuros parece que ainda não se resolveu. O fato é que tudo pareceu bastante traumático para Wrest e, a partir dessa experiência quase-varg-vikerniana, ele compôs o álbum, uma catarse que te transporta para um mundo de dor, tristeza e raiva. Fazendo alusão aos aspectos libidinais, autodestrutivos e violentos do amor – tão decantados por pensadores como Shakespeare, Platão e Freud- o cara compôs pérolas, de títulos memoráveis, como Harlot Rises, Her Circle Is the Noose e Every Orifice Yawning Her Price. Nessa última, temos uma introdução de violões que remete a algo do rock psicodélico dos anos 1960, impressão essa que é logo desfeita pelos vocais grunhidos de Wrest, e toda uma instrumentação que beira o caótico. Grunhidos são percebidos, também, logo na primeira faixa do álbum, True Whorror, faixa cujo título traz em inglês a fusão das palavras horror e puta, antecipando todo o clima de repulsa, confusão e paixão doentia que atravessa o disco. Nessa mesma faixa, logo depois da introdução, os blasting beats comem solto, fazendo dela a mais próxima do black metal tradicional. Os vocais parecem ser gritos de agonia, dor e prazer – tudo ao mesmo tempo, numa odisseia aos confins mais insanos do desejo. Aliás, a atmosfera subjetiva presente desde o lançamento das primeiras demos e no primeiro full-lenght, The Tenth Sub Level of Suicide, de 2003, parece tomar ares de confissão e uma necessidade expressionista de exteriorizar uma pulsão psicótica. Tudo isso amparado por um instrumental que lembra uma briga de foices entre Darkthrone, os momentos mais sombrios e viajandões do Pink Floyd, e a música experimental. Porém, mais do que uma investigação sobre o lado traumático, obsessivo e doloroso de uma paixão devastadora, True Traitor, True Whore deve se tornar um marco para o black metal desta década, por se manter fiel ás raízes do estilo e, ao mesmo tempo, expandi-lo para outras fronteiras. O amor também tem o seu lado escuro. Ou como diria uma das melhores faixas do álbum: cada orifício tem seu preço!

Leviathan - Every Orifice Yawning Her Price


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