quarta-feira, 21 de março de 2012

Black Metal: de Venon a Blut Aus Nord

De todos os subgêneros do heavy metal, o black metal parece ser o mais experimental e o que mais absorve referências alheias ao mundo vivido. Não que os outros estilos de peso não o façam, mas o BM o faz de uma maneira tão extrema e corajosa, que por vezes corre o “risco” de perder a identidade de mero gênero musical para se tornar uma espécie de ideal ético-estético-filosófico. São tantas as agremiações e propostas que fica difícil colocá-las dentro de uma mesma categoria. Surgido nos anos de 1980, o black metal aventou para si o máximo da experiência sonora extrema. Grupos como Venom, Bathory e Hellhammer/Celtic Frost incorporaram tudo o que havia mais radical no rock dos anos de 1970 e início dos 80’s: o hard rock baseado no blues (Zeppelin, Purple, Sabbath, Motorhead, Kiss etc.), os primórdios do heavy britânico – se preferir, NWOBHM –, hardcore/punk rock, e o rock progressivo. Isso sem falar nas influências da música clássica e erudita (romantismo, Wagner, alemães, vanguardas e afins). A segunda geração do BM surgiu na Noruega no final dos 1980’s e início dos 90’s. Fora toda a polêmica dos adolescentes-satanistas-terroristas-queimadores de igreja, o movimento ajudou a reinventar as bases do chamado metal extremo, incorporando várias inquietudes e elementos culturais da paisagem nórdica. A partir do final dos 90´s e início do século seguinte, o estilo passou por diversos processos que envolviam tanto saturação de grupos, tocando e soando exatamente iguais, quanto alguns poucos desbravadores que tiveram – e têm – a coragem de vislumbrar novos horizontes para o gênero, a despeito da má vontade dos “truzêras” mais ortodoxos. Projetos como Gnaw their Tongues (Holanda), Xasthur (EUA), Deathspell Omega (França) surgem em várias partes do mundo tentando passar por cima da mesmice em que se meteu boa parte da cena mundial. O Blut aus Nord, também da França, é um destaque dessa nova ninhada de hordas. Bebendo da água suja dos grupos de BM das décadas áureas – partindo da influência de vanguardistas como Celtic Frost, passando pelo minimalismo ambiental low-fi de grupos como Burzum e Thorns, até chegar na “zoeira fim de mundo” do Godflesh, o projeto “one man band” do malucão Vindsval, vem se consolidando como uma das promessas do atual metal negro, propondo novos paradigmas para se fazer a obscura arte. Incorporando elementos como noise, industrial, música de vanguarda ou experimental, as gravações manipulam elementos pouco ortodoxos dentro do universo obscuro para atingir seu objetivo: explodir o laboratório com música extrema, desconfortável, ensurdecedora e horrorosa. No “bom” sentido, claro... O projeto já soltou duas partes da trilogia 777 – Sect(s) e The Desantification, em 2011. A terceira, ainda desconhecida, deve sair ainda neste primeiro semestre. Os álbuns lançados são a quintessência da “fórmula” (des)construída. É possível encontrar todos elementos descritos acima, elevados à enésima potência. O trabalho é dividido em epítomes, todas as canções se chamam Epitome, e seguem com a numeração I, II, daí em diante. Os discos se apresentam de uma maneira louca: atmosferas, texturas, camadas de teclados e batidas tribais - há uma presença constante da bateria eletrônica, golpes repetitivos e primitivos, vocais e efeitos que parecem gravados ao contrário e todo um climão ritualístico. Absorvendo o lado mais selvagem e experimental das gerações black metal anteriores, 777 eleva o gênero a um novo patamar, onde ele começa a se transformar, tornando-se por vezes irreconhecível. Mas o espírito está lá: tudo o que é ruina, escuridão e sombra. Toda a força exercida por um gênero que em três décadas tem em suas fileiras artistas tão díspares quanto Dimmu Borgir, Mortiis e Sarcófago, por exemplo. Talvez alguns não chamem o projeto francês de black metal. Mas a maldade está lá.

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